quarta-feira, 19 de novembro de 2008

mas que geração rasca........


Esgota-se o tema em si mesmo de cada vez que concluo, trauteando pensamentos entre um dizer e outro, que cada geração, imbuída das particularidades do seu tempo, dá à luz pessoas brilhantes e comuns ou - deveria dizer - pessoas que se distinguem socialmente e outras que se fundem na massa homogénea do anonimato; bons profissionais e medíocres; pessoas cultas e desinteressadas, familiarmente integradas e sólidos independentes. Não é disso que me cabe falar, ainda menos julgar. Parece-me inconclusivo e até desnecessário.

Permitam-me, contudo, a ousadia de questionar esta sociedade de facilitismos. Não posso deixar de sentir as vísceras contorcerem-se de cada vez que me deparo com professores a dissertarem para uma sala vazia ou quase pedindo licença para ensinar uma plateia demasiado ocupada entre a azáfama dos telemóveis e da conversa sobre a vizinha do lado. Há palestrantes a mendigar audiência pelos corredores... Entristece-me, não posso negar, cai-me como um seco murro de raiva no estômago. Houve tanta gente a lutar para que pudéssemos ter o conhecimento ao alcance da nossa sede, todos os dias, que me parece de todo desprezível a indiferença quase a rasar o desrespeito que habita os olhos dos meninos de hoje.

De que serve instituir faltas de presença nas aulas e créditos a seminários, falseando uma responsabilização que deveria brotar espontaneamente das consciências? Sem qualquer réstia de moralismo, o que digo vem de um profundo desgosto que me rói e da vergonha de uma geração que confunde tirar uma licenciatura com saber ser e de um país que o permite. Levámos o paternalismo de toda uma nação pós-salazarista, imersa em culpas e traumas, a um extremo que em nada nos eleva. Pelo contrário. Fizemos das nossas crianças pequenos ditadores, tudo em nome de uma formação livre de rejeições, segundo os ditâmes da psicologia dita moderna. Qualquer "não" dito na mais tenra idade poderá causar uma ferida profunda que se repercutirá em cada gesto para o resto da vida. Presumo que estejamos a considerar que vivemos num país de pessoas intrinsecamente perturbadas, à força de bastantes gritos e um punhado de estaladas numa infância cega a métodos pedagógicos e alheia a computadores!

Chegámos a um ponto de ruptura. Somos todos formados e cidadãos europeus, mas nunca saímos do país, nem aprendemos senão a decorar e, quem sabe até, com um certo jeito, a colar a matéria dos manuais no exames. Continuamos a ser a sociedade dos "chicos espertos", mas agora perfeitamente legítimos e justificados, afinal porquê trabalhar quando haverá alguém que nos levará ao colo? Os esforços, maiores ou menores, dos nossos pais conquistaram-nos um lugar ao sol e, por isso, merecemos dedicar-nos o resto da vida ao diletantismo. Até porque há uma espécie de semi-divindade que nos coloca numa posição de superioridade face aos comuns mortais. Nós podemos, é a palavra de ordem. Mas e o que é que nós fazemos?

Não me interpretem mal. Era urgente mudar, apaziguar o autoritarismo e dar garantias às gerações vindouras. Mas isso não é sinónimo de retirar toda a carga de responsabilidade, consciência e experiências (boas e más) que compõem a vida de qualquer pessoa. O crescimento também se faz de quedas, que ensinam lições de humildade. Estamos a criar pessoas inúteis, que vivem através da televisão e a qualquer adversidade se trancam no gabinete do terapeuta. Vamos mostrar às nossas crianças o prazer de um fruto arrancado com as nossas próprias mãos, a satisfação de um reconhecimento merecido. Vamos desligar a televisão e explicar-lhes que não há um público a avaliar os nossos passos e que é a nós mesmos que devemos primeiramente o respeito de sabermos que conquistámos o nosso espaço. Vamos ensinar-lhes que a auto-estima se constrói de lágrimas e suor e do deleite de saborearmos o caminho. Vamos gerar um futuro capaz. É urgente!!!!!!Bamos lá carago!!!!!!!!!!

1 comentário:

Menphis disse...

Por acaso encontrei este blog à semanas atrás, mas nunca tinha comentado, hoje não resisto para responder ao teu desafio:

bora lá, carago, eu quero ser um dos primeiros da fila :)